Só Neste País?
Se me repito um bocadinho em frases e temas asseguro-vos que esse eco aparente nem tem a ver com a idade. Todos nós a temos e o desgaste quotidiano paga-se sempre, notando-se na atração gravítica que nos vai puxando a pele e os órgãos para posições mais junto à terra que pisamos, já sem falar nos pensamentos que podem tornar-se dispersos ou ausentes; nem com a falta de inspiração (sempre me disseram que eu tinha caído no caldeirão da poção mágica em pequeno e essa, a inspiração, não me falta nem a procuro, já que me procura quase a toda a hora).
Se me repito é porque me acho mais seguro nas manias, nas convicções, nas opções.
Dei comigo há dias a dizer uma frase que muito me ocorre e que já referi nestes meus textos: paremos com a boa velha mania pessimista que temos de dizer, em tom de crítica, “só neste País!”.
Sempre que temos a oportunidade de viajar, de ver outros locais, de passar por experiências diferentes, ficamos felizes: só neste País é que temos milhares de razões de orgulho, revelando-se num desenvolvimento sustentado que noutros locais é uma miragem, na tolerância aplicada em grande percentagem perante a diversidade, manifestando-se em índices de paz, na maior parte dos valores que a definem.
Não digo que não exista um enorme punhado de criminosos, desde os que batem na mulher, no marido, nos filhos, nos namorados, aos que desviam fundos e orçamentos e de vez em quando matam alguém num momento de extremo e violência incontrolada.
Temos a nossa quota parte de marginais, alguns bem conhecidos e até reconhecidos, a par da balança de uma justiça – muito desequilibrada pelas injustiças. (Até alguns, que têm como função tomar conta da Justiça, deviam estar atrás das grades, ou pelo menos em sítio seguro onde não pudessem lesar-nos ou tentar-nos).
Sem grandes sobressaltos, Portugal podia ser muito melhor. Era só uma questão de meter uns quantos na ordem e tirar-lhes as mãos dos nossos bolsos. Aliás, quando a “geringonça” começou a por ordem na parada, a música do coreto passou logo a ser mais afinada e, sim, ainda há muito para fazer, para afastar de vez os tiques fascistas do neoliberalismo, dos excessos, dos seus bancos e “mercados”, das suas recessões e destruição da riqueza de pessoas e empresas, construídos contra as pessoas e o que elas sentem, pensam ou precisam.
É claro que conhecemos bem as irregularidades, do futebol à política, da administração pública aos enormes vícios privados. Sabemos que alguns passam por nos exibindo sinais exteriores de riqueza, incomportáveis com os salários que dizem ganhar, ou permitimos que penos imbecis pouco letrados, com diplomas passados ao domingo, sejam doutores e engenheiros no nosso quotidiano, acabando mesmo por aparecer como Catedráticos, diante dos nossos filhos – que ou fogem ou se vergam à ignomínia do que somos.
Todavia, só neste País, por comparação com muitos outros, temos níveis extraordinários de qualidade de vida, do sol à saúde, da sobrevivência das crianças nascidas todos os dias aos cuidados com os mais velhos, da vida que não enfrenta a morte a todo o instante, como vemos nos outros países – os que na televisão são o sangue e a morte, os escombros e a misérias… Só neste País, felizmente, não temos uma população armada e um presidente delirante…Estou a pensar em mais do que um País (meia centena?) onde a frase se aplica…E por aí fora, na longa série de exemplos possíveis.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), existem 193 países. Detestaríamos viver em muitos deles (na maior parte deles). Só neste País é que temos o que mais queremos.
Deixem-nos viver. Obrigado.
Alexandre Honrado
Historiador